Tua boca - Itamar Assumpção
A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de grudar uma na outra
E sugar bem devagar gota por gota
Beija-flor beijando a flor ou borboleta
A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de rasgar a nossa roupa
Vamos pra qualquer lugar praquela gruta
Pra qualquer quarto de hotel praquela moita
A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de gritar é uma bomba
Acho que vai rebentar desgraça pouca
Azar eu vou me matar na sua boca
Você acorda vendada
Atada na cama
Amordaçada
Sussurro em seu ouvido
Uma palavra te relaxa
Dedos percorrem seu corpo
Procurando certos pontos
Apertando
Arranhando
Acariciando
Ação e reação
Você geme
Sorri
Se contorce
as amarras se esticam
O coração se contrai
Meus dedos percorrem suas cavidades
Um espasmo
Um gemido
Um ataque
Minha boca entra nessa dança
Fazendo de seu corpo minha arte
Mordo suas coxas
Abro suas pernas
E exploro por partes
Começo pela parte interna de suas coxas
Vou subindo com vontade
Dando prazer ao desejo
Desejando sua vontade
Cheiro seu sexo
Fico extasiado
Minhas mãos seguram sua cintura
Minha boca consome você
Minha lingua corre solta
Com lambidas de prazer
Seu corpo se contrai
Seu corpo se relaxa
Ritmo frenético que eu dito
Sem sair de suas pernas
Tiro sua mordaça
Ouço um gemido abafado
Seguido de um urro extasiado
Ouço seus pedidos
me faço de rogado
Me divirto com suas suplicas
Procuro seu cansaço
você treme
xinga
geme
Solto suas pernas
Nelas me enrosco
Balé preso
Orgasmo consumado
Desmaiando de prazer
dormimos agarrados
quero você colada em mim
como se fossemos um só
grudados no nosso suor
unidos pela boca
doando prazeres
recebendo prazeres
consumindo almas em chamas
Impressionando sentidos
pressionando corpos
somos brutais
forças em luta
somos poesia
movimentos sensuais
somos animais
arranhões e marcas
somos balé
corpos são música
somos o que sobrou
depois das cascas
grito alto de prazer
você me arranha
me reduzindo a nada
me sinto um vazio pleno
corre nas minhas veias
não sangue, mas um novo veneno
tudo que ele toca, morre no esquecimento
vira pó, se espalha com o vento
dor também é sentimento
se dói em mim, morro por dentro
vendo você partir sem meu consentimento
escorrego no penhasco, caiu de peito
um coração esmagado
parado no tempo
sem pulsação
só veneno
colo na sua
esperando você entrar na minha
como numa engrenagem, tudo se move
não somos um relógio suíço
não somos um motor
somos uma máquina consumindo amor
eu tomo o que preciso
você pega o que quer
não somos delicados
somos máquina
não ligamos pros outros
mal ligamos para nós mesmos
vamos atropelando, mutilando, consumindo, corroendo, correndo
nós nos amamos
sem sentimentos
um raciocinio lógico
que só eu e você entendemos
Corro pra lá e pra cá
E não saio do lugar
A vida é minha
Mas quem comanda é o medo
Sentido torto
Corrida sem destino
Começo a entender
Se não te como
Comido serei
Canibalismo é antropofagia
Minha boca é entrada e saída
Você entra
Mas nunca sai
Falsifico emoções
Atrapalho meus sentidos
Brigo comigo
Acabo mudando a realidade
Criando um mito
Tudo fruto do medo que carrego comigo
Digo que não sou pra você
Sabendo que de você eu preciso
Remédio amargo com gosto antigo
Me escondo de você
Esperando pra você me encontrar
Coisa tola de se esperar
Medo tolo
Medo bobo
meu mal estar
Esnobo você
querendo contigo estar
Burrice? Não, MEDO!
Quero descobrir suas nuances
O que em você está escondido
Não preciso ver o que você mostra a todos
Isso é só mais uma de suas mascaras
Não quero saber o que sabem de você
Quero descobrir o que ninguém conseguiu ver
Quero abraçar seu intimo
Unir seus prazeres aos meus
Ver até onde podemos chegar
Extrair de você o que você nunca soube entregar
Vou abrir uma porta em meu peito
Deixar você entrar
Mostrar do que sou feito
Carne, ossos e meus desejos
Quero que descubra meus segredos
Desarrume meus sentimentos
Não sou brinquedo
Mas pode tirar proveito
Vou te dar minha essência
E o que nunca te foi dado
