Toma, cuida que é seu!

Então ela bateu na minha porta e disse:

–Toma, cansei, agora quem cuida é você!

Eu não queria, mas ela foi empurrando aquele coração todo cheio de sentimento. Me entregou seu coração e foi embora, me deixando ali, pasmo, sem reação e totalmente abobalhado.

Eu nunca imaginei que dava pra entregar um coração todo transbordando de sentimentos, na mão de alguém, e ainda assim sair andando.

Várias vezes eu tentei devolver, mas ela não queria, no máximo ela aceitava uma troca.

Mas teve uma coisa que ela me disse que achei bem legal:

–Ele tá com você, mas ainda é meu, só peço que cuide dele com carinho!

Ela sempre passa em casa pra curtir o coração, temos bons momentos, as vezes ela dá umas indiretas sobre levar meu coração, eu desconverso e assim vamos seguindo.

Mas no fundo, bem no fundo, eu acho bem estranho esse negócio de ficar entregando o coração

Saudades de esperanças mortas?

Sinto saudades de um tempo que não vivi

de horas de sabedoria que não recebi

de conversas que não tive

de historias que não escutei

de idéias que não discuti

Tenho saudades de coisas que não vivi

de coisas que não amei

de sabores que não provei

de vistas que não olhei

Tenho saudades do que se foi, mas nunca aconteceu

Que tipo de saudade é essa?